O Farol de Lubumbashi

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ilíada contada noutra história

(Para ser lido com voz grave de trailer de filme de acção)

Ele era um homem zangado.
Combatia uma guerra que não era a sua.
Numa terra que não era a sua.
Ao lado de líderes que não eram os seus.
Um destes líderes comete o erro ao retirar-lhe a amante:

- Briseidaaaaaaaaaa! Nããããããããããããoooooo!

Ele já não era um homem zangado.
Era agora um homem amuado.
Um sentimento que dura quatro quintos do livro:

- Olha lá, podes dar uma mãozinha na guerra?
- Não vou!
- Oh, vá lá!
- Não vou!

Até que um evento o faz mudar de ideia:

- Pátroclooooooooo! Nãããããããããããooooooo!

A morte do melhor amigo retira-o do estado de amuo.
Agora era a sua guerra.
Agora queria vingança.
Agora voltava a ficar zangado, mas em mais.

- Heitoooooooooooor!
- Nããããããããooooooooooo!

Ele é:

AQUILES

Em:

ILÍADA

Um livro de:

HOMERO

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Gilgamesh vai bem com

Apesar de ser uma história de 'reis', o livro tem um tom bastante rural e selvagem, daí a minha proposta:

Sopa
Come-a tu, seu maricas!

Prato principal
Favas com enchidos vários
Pernil de javali assado com alecrim

Bebida
Cerveja artesanal em copo de barro

Música de acompanhamento
 

Palavras em Gilgamesh

Palavras que aprendi com Gilgamesh:

Jactância: s.f. Comportamento de quem age com arrogância.
                 Ação ou hábito de se gabar: falar com jactância.
                 Aspiração de valentia, coragem, conduta de quem vive a contar fanfarrices.
Aguilhão: s.m. Ponta de ferro, fixada na extremidade de um bastão, para picar os bois.
                 Zoologia. Designação comum de ferrão.
                 Figurado. Tudo aquilo que incita a agir; estímulo: a glória é um poderoso aguilhão.
                 Figurado. Sofrimento pungente.

Palavra que está presente em Gilgamesh e que gosto de ver em livros:

Libação: s.f. Ação ou efeito de libar (beber).
               Que se baseia na ação de aspergir ou de oferecer um líquido a uma divindade.
               Ação de ingerir bebidas alcoólicas, geralmente para brindar, por deleite e/ou por prazer.
               Essa bebida e/ou esse líquido.

Gilgamesh agora a sério

Bem sei que foi há muito tempo, mas vamos lá tirar o mamute do meio da sala.
Gilgamesh é um plágio.
É um pré-plágio.
É um pós-plágio.
Gilgamesh, duas partes deus, uma parte homem, vivia no mundo como se mais ninguém existisse. Ao seu aborrecimento, os deuses responderam-lhe com a criação de um parceiro. Enkidu, feito à sua medida e semelhança.
Os deuses comandam o destino. Para eles: a vida; para os homens: a morte. Comunicam os seus desígnios aos mortais através de signos, os quais são transportados pelos sonhos.
Aos dois companheiros urge a aventura. Gilgamesh e Enkidu buscam a glória eterna.Querem que a história, mais eterna que a vida, prolongue os seus feitos. Apenas um retornará.
Esta mania que os deuses têm de controlar da vida e da morte, Gilgamesh sabe-o bem. Ainda se lembra que já haviam estado desavindos com os humanos. E o que é fizeram? Lançaram um dilúvio sobre a Terra e a vida sobre ela desapareceu.
Mesmo assim, Gilgamesh procura a eternidade: já não a da glória, mas a da carne. E encontra-a sob a forma de uma flor, que ele tenta transportar para o seu reino. Gilgamesh sucumbe aos apetites de um banho e a flor é-lhe sonegada por uma serpente. A sua eternidade por um banho.
Onde é que eu já ouvi isto depois?
Ou foi antes?
A epopeia de Gilgamesh é um texto sul-babilónico. Porém, existe um anterior, com o mesmo título, do período sumério. Não é exactamente igual. Pelo menos, penso que não, que o meu sumério está tão enferrujado como o meu islandês. Mas há quem diga que não e, como não encontrei ninguém que dissesse que sim, eu também acho que não. O babilónico aproveita os temas sumérios, acrescenta uns, retira outros e, sobretudo, torna-o uniforme.
Ademais, se os babilónios o quitaram aos sumérios, por mim tudo bem e poderá dever-se a dois pontos:
  • O texto foi escrito em tabuinhas de argila. Logo, não deveriam existir muitos exemplares, se é que existiam em plural. O gatuno poderá ter sonegado o exemplar, ter feito uma cópia, dar a sua autoria e ter convertido o original em potes.
  • O séc. XVIII a.C. não é muito conhecido (se é que o é por alguma coisa) pelo cuidado na legislação em relação aos direitos de autor. Tanto não o é, que o texto que chegou até nós entra na categoria de autor 'anónimo'. Na verdade, mais vale. Estamos numa época em que ainda não haviam sido inventados os pseudónimos e, segundo reza a lenda, o Gilgamesh terá tido várias versões: a primeira com traços orais e as seguintes atribuídas a tipos com estes nomes: Sinliqiunnini e Nabuzuqupkena. Resultado: mais vale a pena ser anónimo. Quem é que consegue dizer Sinliqiunnini? Ora digam lá cinquenta vezes seguidas. E Nabuzuqupkena? Ah, pois é! Eu também considero que o texto é anónimo. 
O pré e o pós fazem parte de Gilgamesh. Gilgamesh, na verdade, não é em si pré e pós: contém em si o pré e o pós. Gilgamesh este entre estes dois pontos; no início, no meio e no fim; no centro daquilo a que podemos chamar o início da literatura mundial.