Em Gilgamesh, estamos na infância da literatura mundial.
Há muito, muito, mesmo muito... há bué, vá!, de tempo, no reino antigo de Uruk que, quem vai daqui, só tem que ir a direito pela Nacional 1 e sair na terceira saída da 1034ª rotunda, vivia o rei Gil, a quem todos temiam.
Na verdade, ele não era verdadeiramente rei, mas era assim que exigia ser tratado. Exigia, porque podia.
Gil era um magano que dominava o recreio da sua escola. Um domínio que era exercido pelo terror e possibilitado pelo seu tamanho e força: inigualáveis.
Nesta altura, ainda não existia futebol e o desporto que Gil praticava era a violação de meninas; por aborrecimento, nunca por deleite.
Ora, vá-se lá saber porquê, as outras crianças do recreio, bufas, decidiram fazer queixa dele à administração escolar. Diga-se que os membros da direcção da escola, por medo de Gil, comportavam-se como uma espécie de deuses: longe da vista.
Perante tantas queixas, a direcção toma uma decisão salomónica: dividir o terror. Em vez de um protagonista a espalhar medo, devia haver dois protagonistas que o fizessem. Melhor: o segundo protagonista devia ser um equivalente de Gil, igual em força.
É assim que surge Kid, que tinha, para espanto de todos, não só uma força equiparável à de Gil mas, também, a mesma fisionomia.
Constava-se que Kid havia sido abandonado em criança e, qual Tarzan, criado por criaturas selvagens. Foi resgatado da selva pelos membros da direcção da escola, que o aliciaram com favores sexuais. Consta-se também que o seu corpo era coberto por uma camada espessa de pêlo, a qual caiu aquando da execução dos ditos favores. Não se preocupem que, mal acabe de contar esta história, eu próprio aviso o protagonista Kid para consultar um especialista.
Gil e Kid avistaram-se pela primeira vez no recreio. Antes que pudessem sequer vislumbrar que eram em tudo semelhantes, decidiram conhecer-se através do toque secreto dos rufias: à pancada.
Como se dirime uma luta entre dois protagonistas iguais?
Iguais na fisionomia, na força, na vontade e na estupidez.
Não se pode.
Pois o empate a que se assiste, provoca neles um novo sentimento: o de invencibilidade conjunta.
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