O Farol de Lubumbashi

sábado, 18 de outubro de 2014

Prometeu Acorrentado vai bem com

Sopa
Não tens direito a sopa!

Prato principal
Iscas de cebolada. Tuas, não para ti!

Sobremesa
Querias doces, era? Não há!

Bebida
Quatro gotas de água por dia

Música de acompanhamento


Palavras em Prometeu Acorrentado

Palavras que aprendi em Prometeu Acorrentado:

Embaucador: enganador, aliciador.
Penha: Rochedo, penedo, penhasco; rocha.
Tavão: Género de moscas, da família dos tabanídeos, cuja fêmea pica o homem e o gado, sugando-lhes o sangue; moscão, moscardo.

Palavras que estão presente em Prometeu Acorrentado e que gosto de ver em livros:

Debalde: Que não apresenta resultado; que ocorre em vão; sem utilidade; inutilmente.
Rapaces: Que rouba, rapinante. / Que persegue a presa afincadamente: o abutre é rapace. (Diz-se das aves de rapina.) / Fig. Ávido de lucro: usurário rapace. / O mesmo que rapaz.

Expressões que abichanam um leitor em Prometeu Acorrentado

Prometeu:
"Sou o inimigo de Zeus, o que atraiu sobre si o ódio de todos os que frequentam a sua mansão, por ter amado demasiado os homens."
P. 21

Oceano para Prometeu:
"Não sabes acaso, oh Prometeu, que para a doença do ódio existe a medicina das palavras?"
P. 27

Prometeu:
"Que pode temer aquele a quem não é dado morrer?"
P. 43

Prometeu Acorrentado agora a sério

A peça de Ésquilo conta-nos a história de um deus que se enamorou pelos mortais e, por isso, sofreu às mãos dos imortais.
Para nós, que vivemos sob a luz de uma tradição judaico-cristã, não conseguimos ler este clássico sem fazer a ponte entres as concepções dos Antigo e Novo Testamentos; entre o Deus impositivo, alheio e de certa forma distante dos mortais, e o Deus misericordioso, próximo e personificado na figura do seu filho.
Na peça, Zeus é esse deus distante e Prometeu o misericordioso, o qual rouba o fogo dos deuses para facilitar a vida aos efémeros. Prometeu é também a ponte, o que aproxima o divino do profano, não com crenças mas com práticas.
No fundo, o que Prometeu oferece é a tangibilidade da religião, sem imposições imateriais nem irracionalismos.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Prometeu Acorrentado contado noutra história

Esta é a história de Heidi, uma supermodelo que optou por deixar de o ser.
No auge da sua fama e reconhecimento, Heidi retirou-se aos 19 anos.
Ser simetricamente bonita, de corpo perfeitamente torneado - a "deusa das passereles" - não se conjugava com a sua procura de anonimato; não o dela mas o dos outros. E foi por isso que se retirou, farta dos seus pares gozarem com os seus anónimos namorados; farta dos seus relacionamentos não corresponderem às expectativas dos 'Adónis' com quem trabalhava. No fundo, o que os outros diziam não lhe importava; temia pelos seus anónimos; que o amor que lhes tinha não podia ter qualquer ruído.
E assim fez.
Já no anonimato encontrou um local que lhe sentiu como sendo o seu paraíso. Tratava-se de uma sala repleta de cadeiras, onde se reuniam semanalmente os alcoólicos anónimos. Era perfeito: ninguém era ninguém; todos eram o seu vício.
Foi aqui que conheceu Marco, um ex-Navy Seal, veterano da primeira guerra do Iraque, que havia afogado o síndrome pós-traumático na companhia do dr. Jack e do sr. Daniels. Quando conheceu Heidi, estava em fuga dos seus companheiros pela oitava vez.
Sem descrições de como se desenrolou o seu relacionamento, até porque o fizeram sempre dentro de portas e de fechadura trancada, depressa deixaram entrar também os antigos companheiros de Marco.
Para a ex-deusa das passereles era o início do seu suplício. Habituada durante anos a alimentar-se através de fotossíntese, o dr. Jack e o sr. Daniels provocaram-lhe dores e danos irreparáveis no fígado.
Hoje, pouco sabemos dela. A última vez que a vimos foi à porta de uma reunião dos alcoólicos anónimos.
O seu paraíso.
O seu anonimato.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Arte de amar vai bem com

Sopa
Do que quiseres, baby!

Prato principal
Pode ser vegetariano, baby! Hoje escolhes tu.


Sobremesa
Se quiseres tenho um docinho em casa para ti, baby.

Bebida
Vinho rosé

Música de acompanhamento

Palavras em Arte de amar

Palavras que aprendi em Arte de amar:

Aduncar: Tornar(-se) adunco, ou recurvado, em forma de gancho.
Facúndia: s.f. Tendência para discursar; que discursa em público; que tem facilidade para falar em público; que demonstra eloquência; facundidade.
Fero: adj. Feroz, selvagem, rústico, bravio. Cruel, desumano, intratável. Violento, forte, impetuoso: o fero vento. Áspero, duro: a fera tuba. Carregado, torvo, severo: fero cenho. Sadio, rijo, vigoroso, férreo: fera compleição.
Férula: s.f. Botânica. Planta das regiões mediterrâneas, das quais uma espécie, originária do Irã, fornecia a assa-fétida, enquanto outras forneciam o galbano. Palmatória.
Relha: s.f. Parte do arado que abre o sulco na terra. Peça de ferro que reforça externamente as rodas dos carros de bois.

Expressões que abichanam um leitor na Arte de Amar

Um dia no anfiteatro: espaço aprazível para conhecer mulheres e gajas:
"Se gostas de caçar,
é sobretudo nos anfiteatros
que a caça é abundante.
Oferecem-te os teatros
muito mais do que possas desejar.
Aí encontrarás
desde o divertimento inconsequente
à mulher a quem amas realmente,
desde a amada que desejas conservar
àquela a quem apalpas fugazmente."
p. 21

'Gold diggers' em Roma antiga:
"Sempre que a tua amiga fizer anos
observa o culto do seu aniversário.
Que esse importante dia
em que dar-lhe uma prenda é necessário,
seja um dia funesto para ti.
Por mais que te defendas,
um presente qualquer há-de arrancar-te:
de se apossar da riqueza do amante
inventou a mulher a consumada arte."

pp. 41-42


Um homem quer-se embrutecido:

"Oh! Não frises com ferro os teus cabelos
com a pedra pomes as pernas não depiles.
Esses cuidados deixa àqueles que com vivos
à moda frígia a Cibele rendem culto.
Convém aos homens a beleza descuidada."
p. 47 

O que deves beber para ela não se aproveitar de ti:
"Vou agora indicar-te
a exacta medida que bebendo
deves observar.
Possam a mente e os pés
suas funções desempenhar;
o vinho, os combatentes estimula
e as mãos prepara para brigas cruéis."
p. 52


Opinião de nicho acerca do acto que se descreve de seguida:
"A mulher violada por um rapto insolente
torna a violação como um doce presente."
p. 57


O cérebro feminino aos olhos de um troglodita:
"Reconheço que existem mulheres cultas
mas são tão pouco numerosas...
As outras da cultura que não têm
a arte têm de a representar."
p. 84

Arte de amar agora a sério

Quando um livro que pretende fomentar os relacionamentos entre homens e mulheres não é um livro de diálogo.
Trata-se sim de um tratado sociológico idealista, em que as pessoas devem asumir e ler comportamentos, de modo a discernir vontades e predisposições.
Não se trata de um livro que fale de individualismos mas de colectivos. Não trata o que: acontece mas o que deve acontecer; se diz mas o que se deve dizer; se faz mas o que se deve fazer.
Assim sendo funciona como um molde, mais do que observação da realidade; como o império espera que os géneros se comportem.

Arte de amar contada noutra história

Dilemas de Ovídio na escolha do título do livro - as outras hipóteses:

- A arte de comer gajas - um acto plural
- Como escolher o melhor naco de carne no talho
- Saiba como escolher o melhor depositório de sémen
- Manual de gado bovino
- Como comer à fartazana sem engordar
- Gajas: esse animal domesticável

Arte de amar a nu


Eneida vai bem com

Sopa
Sopa do mar

Prato principal
Costeletas de boi em cebolada

Sobremesa
Toranja

Bebida
Vinho corrente

Música de acompanhamento

Palavras em Eneida

Palavra que aprendi em Eneida:

Arrostar: v.t. Encarar sem medo; fazer face a; enfrentar: arrostou todos os perigos; arrostar necessidades. Afrontar. 
Ebúrneo: adj. De marfim; alvo e liso como o marfim.

Louçania: s.f. Qualidade de loução. Atavio, ornato. Garbo, gentileza, porte elegante.
Manes: s.m.pl. Entre os romanos, almas dos mortos, consideradas como divindades. Divindades infernais que os romanos invocavam sobre os túmulos.
Númen: poder celeste; inspiração; génio.
Penates: deuses protectores do lar.
Plectro: s.m. Instrumento que servia para fazer vibrar as cordas da lira. Fig. A poesia, o génio poético.
Vate: s.m. Indivíduo que faz vaticínios; profeta, adivinho.

Palavras que estão presentes em Eneida e que gosto de ver em livros:
   
Arcanos: segredo profundo; mistério; enigma.
Borrasca: s.f. Temporal com ventania violenta e de pouca duração. Fig. Ocorrência súbita de contrariedades e desgostos. Acesso de mau humor e cólera violenta mas passageira.
Insigne: adj.m. e adj.f. Que consegue ser notado por seu trabalho, realizações e/ou obras; famoso ou ilustre.

Expressões que abichanam um leitor em Eneida

Júpiter para Vénus:
"Mas visto que tens tantos cuidados, vou mostrar-te, vindo muito detrás, os arcanos do futuro."
p. 23

"Quando iam no meio do mar, quando da redonda terra se viam apenas o céu e mar, parou por cima da cabeça de Eneias uma enorme nuvem, prenhe de trevas e de borrasca."
p. 105

Sobre o funeral do troiano Miseno:
"Tudo ardeu num momento: os montes de encenso, as entranhas das vítimas, as taças de azeite entornando sobre elas. Logo que ficou tudo reduzido a cinzas e se apagaram as chamas, tiraram os ossos e depois de limpar com vinho aquelas relíquias ainda quentes, encerraram-nas numa urna de bronze."
p. 133

Eneida agora a sério

"Mas visto que tens tantos cuidados, vou mostrar-te, vindo muito detrás, os arcanos do futuro."

Se Luís de Camões dedicou os seus Lusíadas a D. Sebastião, de modo a que o olhar do passado glorioso de Portugal legitimisse e inspirasse a continuidade da grandeza no presente e futuro, o mesmo havia feito Virgílio com Augusto ao dedicar-lhe a sua Eneida.
A história da fundação mitológica de Roma como herdeira da desaparecida Tróia às mãos do piedoso Eneias comporta, para além da tradição literária dos poemas homéricos, uma legitimação política do imperador Augusto e do império romano. As palavras de Júpiter para Vénus, em epígrafe, dizem-nos isso mesmo: vamos desenterrar as raízes profundas do passado, dando um fundo mitológico e legitimador às conquistas do presente e à perseverança do império no futuro. 

Eneida contada noutra história

- Pscht, Augusto. Chega aqui.
- Quem, eu?
- Sim, Augusto, tu. Chega aqui.
- Mas eu não me chamo Augusto.
- Não te chamas Augusto, agora! É claro que sim! Traz-me uma bifana.
- Ó homem, você não deve estar nada bem.
- Estou mais que bem. Agora, neste preciso momento, vejo tudo e mais alguma coisa. Entretanto, deu-me a larica. Traz lá uma bifaninha; e um príncipe.
- Ó homem, já viu onde está? Já olhou à sua volta? Acha que num departamento das finanças vendemos bifanas?
- Se não têm, deviam ter! Sabes tu, porventura, o que era isto antes de ser as finanças?
- Deixe-me adivinhar: uma casa de bifanas.
- Nem por sombras. Não era, de forma nenhuma, "uma" casa de bifanas - era "a" casa das bifanas; onde tudo começou - chamava-se Roma, a bifana germinal.
- Como já reparou e eu lhe confirmei, aqui, agora, neste momento, isto é "uma" repartição das finanças.
- Queres com isso dizer que não honram a história do local?
- "Honram a hist"... como assim?
- Se não guardam nas arrecadações bifanas de antanho?
- Claro que não! Mesmo se o fizéssemos, deviam estar muito boas, deixe estar...
- Pois, boas ou não, seriam sempre originais; as legítimas representantes de todas as bifanas do mundo, as líderes incontestadas das bifanas...
- Segurança!

Eneida a nu


domingo, 24 de agosto de 2014

Kama Sutra vai bem com

Sopa 
Sopa de pénis de touro

Prato principal
Pão recheado com alheira, chouriça em sangue e linguiça, com queijo cheddar a escorrer

Sobremesa
Morangos com chantilly

Bebida
Qualquer uma que tenha álcool

Música de acompanhamento

Palavras de Kama Sutra

Palavra que aprendi em Kama Sutra:

Auparishtaka: sexo oral.
Caramanchão: s.m. Construção tosca, de ripas ou estacas, geralmente recoberta de planta trepadeira, situada num parque ou jardim; o mesmo que caramanchel e camaranchão.
Ganika: mulher pública versada nas sessenta e quatro artes.
Lingam: Pénis.
Yoni: Vagina.

Expressões que abichanam um leitor em Kama Sutra

"Concluídos todos os afazeres do dia e passado o tempo em diversões agradáveis variadas, tais como lutas de codornizes, galos e carneiros..."
p. 32

"Não devem ser desfrutadas as seguintes mulheres:
»Uma leprosa
»Uma louca
»Uma mulher expulsa da casta
»Uma mulher que revela segredos
»Uma mulher que expressa publicamente desejo de relações sexuais
»Uma mulher excessivamente branca
»Uma mulher excessivamente escura
»Uma mulher malcheirosa
»Uma mulher que é parente próxima
»Uma mulher que é uma amiga
»Uma mulher que leva uma vida de asceta
»E, por fim, a esposa de um parente, dum amigo, dum brâmane instruído e do rei."
pp. 38-39

"De igual modo podem ser executados a cópula do cão, a cópula do bode, a cópula do veado, o violento montar do burro, a cópula do gato, o salto do tigre, o carregar do elefante, o roçar do varrasco e o montar do cavalo."
p. 68

"Quando um homem desfruta muitas mulheres ao mesmo tempo, chama-se «cópula da manada de vacas»."
p. 69

"O lugar próprio para o açoitar por prazer é o corpo e, no corpo, os pontos especiais são:
»Os ombros
»A cabeça
»O espaço entre os seios
»As costas
»O jaghana, ou parte central do corpo
»As ilhargas
»O açoitar é de quatro espécies:
»Com as costas da mão
»Com os dedos ligeiramente flectidos
»Com o punho
»Com a palma da mão
»Uma vez que causa dor, o açoitar dá origem ao som de beijar, que é de diversos tipos, e aos oito modos de chorar:
»O som Hin
»O som do trovão
»O som do arrulho
»O som do choro
»O som Phut
»O som Phât
»O som Sût
»O som Plât"
pp. 70-71

"Os actos a praticar pelo homem são:
»Fazer avançar
»Friccionar
»Perfurar
»Esfregar
»Pressionar
»Golpear
»O golpe do varrasco
»O golpe do touro
»A diversão do pardal"
pp. 75-76

Evitar as seguintes mulheres para casar:
"A que é mantida escondida
»A que tem um nome que soa mal
»A que tem o nariz deprimido
»A que tem as narinas voltadas para cima
»A que tem compleição masculina
»A que é curvada
»A que tem as coxas arqueadas
»A que tem a testa saliente
»A que tem a cabeça calva
»A que não aprecia a castidade
»A que foi manchada por outrem
»A que sofre de Gulma
»A que é desfigurada de algum modo
»A que atingiu plenamente a puberdade
»A que é amiga
»A que é irmã mais nova
»A que é uma Varshakari [que tem as palmas das mãos e plantas dos pés suadas]"
pp. 90-91

Kama Sutra agora a sério

O Kama Sutra de Vatsyayana é uma espécie de apontamentos Europa-América original de um texto bem mais antigo e bem mais extenso. Nandi é tido como o autor primordial, num documento que comportava mil capítulos. Shvetaketu resumiu as palavras de Nandi para quinhentos capítulos e Babhravya abreviou para cento e cinquenta capítulos, divididos em sete partes. Vatsyayana pegou neste resumo de resumo para também ele resumir em sete capítulos o texto de Babhravya.
Para os mais incautos, o Kama Sutra é um documento escrito, que não é acompanhado de imagens, datado do século III a.C.. O hinduísmo comporta um equilíbrio entre a sua dimensão espiritual e a sua dimensão física, estabelecendo regras que os seus praticantes devem seguir. O Kama Sutra entra na segunda dimensão desta religião, servindo de guia para a procura, conhecimento e actuação no campo das artes das relações entre homens e mulheres, votando o segundo elemento (como acontece com todas as religiões que foram criadas no período arcaico) a um papel de protagonismo secundário, totalmente submisso.

Kama Sutra contado noutra história

Entretanto, em Varanasi, o curtidor Vikram toma conhecimento de uma novidade literária pela boca do pastor Indra, que lhe vai causar estupefacção e arrebatamento:

Indra: Já haveis comprado o livro de que anda toda a gente a falar?
Vikram: Estais a falar das Cinquenta Sombras de Mahatma? Já, mas ainda não li. Andam as minhas seis esposas a ler.
Indra: Não estou a falar desse. Estava a referir-me a um livro a sério - o Kama Sutra.
Vikram: Nunca ouvi falar. De que trata?
Indra: É o livro que mostra a moksha terrena para todos os homens.
Vikram: Por Vishnu, que dizes tu? Como é que isso é possível?
Indra: Através da união do lingam com a yoni.
Vikram: Sexo? Não me digas que o autor é o Marquês de Phalodi? Da última vez que comprei um livro dele, tentei transpôr em casa o enredo e fugiram-me três esposas.
Indra: Não é nada disso! Esquece tudo o que leste até agora. O Kama Sutra é um manual que te fornece sabedoria na escolha de mulheres; precisamente para evitar que te fujam algumas delas.
Vikram: Por Vishnu, que dizes tu?
Indra: Sabias que elas têm uma de três profundidades?
Vikram: Sabia que tinham profundidade. Quando lhes bato e provoco ferida, observo que têm mais do que pele. Não sabia que havia mais profundidades.
Indra: É uma profundidade que não precisa de agressão necessária; é a profundidade da yoni, que deves medir e escolher para cobrir devidamente o teu lingam.
Vikram: Por Vishnu, que dizes tu? 
Indra: Digo-te que se souberes escolher seguindo os ensinamentos do Sutra, tens a yoni adequada sempre que queiras.
Vikram: Mas isso nunca antes aconteceu! Sempre que quero yoni procuro uma ganika; valem todas as rupias que pedem. Deixa-me ver se percebi: estais a dizer que há esposas que não são como gado e que copulam não só em determinadas épocas do ano?
Indra: Não e sim. Estou a dizer-te que há gado que copula todo o ano - é só saber escolher.
Vikram: Por Vishnu, que dizes tu? E as dores de cabeça que duram meses, desaparecem?
Indra: O Kama Sutra diz que as mulheres versadas nos sessenta e quatro ofícios também têm dores de cabeça, ao que tu deves responder: "Eu também tenho a minha a latejar." E é garantido! Elas tiram as tuas dores de cabeça e as delas pela boca, numa prática como que científica de auparishtaka. É uma espécie de pulsão e basculação do pulso, com um massajar contrário às papilas da língua e...

Vikram não conseguiu processar tanta informação nova e desmaiou, caindo no tanque de tinta magenta, onde ficou submerso. Indra verificou que Vikram estava vivo quando viu o seu lingam aparecer à superfície da tinta.

Kama Sutra a nu (what else)




sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Rei Édipo vai bem com

Sopa 
Sopa de legumes passada pela mãe

Prato principal
Entrecosto assado no forno, com um toque especial de especiarias pela mamã

Sobremesa
Bolo de bolacha caseiro

Bebida
Leite com três colheres de chocolate só como a mãe sabe fazer

Música de acompanhamento



Palavras em Rei Édipo

Palavra que aprendi em Rei Édipo:

Enjeitado: adj. Que foi alvo de rejeição; que foi recusado; rejeitado: pedido enjeitado. Jurídico: Que foi alvo do abandono paterno e/ou materno; diz-se de criança que foi desamparada por seus pais.
s.m. Criança que foi desamparada ou abandonada por seus pais.

Palavra que está presentes em Rei Édipo e que gosto de ver em livros:   

Parricida: s.m. e s.f. Pessoa que mata pai, mãe, ou qualquer outro ascendente legítimo. Adj. Diz-se do que se refere a esse crime: fúria parricida.

Expressões que abichanam um leitor em Rei Édipo

Creonte para Édipo:
"Só se encontra o que se busca; o que nos é indiferente, de nós foge."
p. 19

Édipo para Creonte:
"Tu falas muito bem, mas eu escuto muito mal."
p. 35

Creonte para Édipo:
"Não sei; é meu costume calar-me a respeito do que não sei."
p. 36

Édipo para Jocasta:
"O orgulho gera a tirania; o orgulho, cometidas loucamente mil acções insensatas e más, chega aos cimos mais altos e cai depois no fundo dos destinos donde lhe é impossível escapar-se."
p. 49

Mensageiro para Édipo, ao falar da morte de Políbio:
"Basta um breve momento para adormecer na morte os corpos dos velhos."

Rei Édipo agora a sério

Rei Édipo é um livro de força religiosa e um livro de força para não religiosos. É também um documento que não comporta segredos, onde todos os espaços, mesmo os esconsos, são escrutinados. Perante isto, resta-nos escolher o lado da barricada.
Nesta peça constatamos que o destino é tudo o que as pessoas têm; é incontornável e mesmo um pé que pensamos estar fora dele, revela-se que reside no seu seio. Aqui reside a angústia de Édipo (e a nossa): o sentimento de que não existe a palavra alternativa.
Para o leitor, é neste momento que se dividem as águas: ou aceitamos a noção de fado ou a renegamos. Porque a nossa decisão é densamente simples: predestinação (religiosa ou genética) ou incondicionalismo mental?
Rei Édipo é uma peça hermética, traçada desde a primeira linha, a qual se dirige à última rectilineamente. O que vem depois é o questionamento da nossa ideologia: condicionamos (interna e externamente) a observação que fazemos acerca de nós? Temos um destino traçado ou traçamo-lo nós?

Rei Édipo contado noutra história

Relatório de um psicanalista acerca do paciente E.

"À terceira consulta do paciente E. tive uma sensação de arrebatamento. As suas palavras fecundaram o meu pensamento e, após uma breve estadia nos sanitários para alívio sexual, senti a gestação de uma nova ciência.
»Liguei imediatamente à minha mãe para lhe contar a boa nova, ao que ela respondeu:
»- Vai-te foder!
»Assim fiz e em boa hora, pois as ideias começaram a fluir como um jorro.
»Eis a história do paciente E., a qual passo a citar:
»Doutor, estou em crer que estou finalmente em condições para lhe contar o sonho que tem assolado os meus dias.
»Como já mencionei, os meus pais tinham uma vida sexual extremamente activa e faziam-se ouvir em todas as divisões da casa.
»Cresci com esses sons no meu pensamento, acompanhados por uma espécie de repulsa que me revolve as entranhas, sempre que viajo para esses momentos.
»O meu sonho é do mesmo cariz... Sim, de cariz sexual. Pensava que já havia compreendido. O que sucede é que no sonho sou eu que estou no acto e... sim, no acto sexual! Estava eu a dizer que, enquanto estou no imbuído no coito - está bem assim? - , estou ao mesmo tempo no corredor, como se no imediato fosse o adulto e a criança que ouve os pais. No momento em que penso que estou perante os meus progenitores, levanto o lençol e reparo que sou eu que estou a ter relações sexuais com a minha mãe. E... 
»Aonde vai, senhor doutor? Doutor? Ainda não acabou a nossa hora!"

Rei Édipo a nu


Medeia vai bem com

Sopa 
Sopa da pedra

Prato principal
Mioleira de carneiro com arroz de miúdos

Sobremesa
Migas doces

Bebida
Vinho tinto da pipa

Música de acompanhamento


Palavras em Medeia

Palavras que aprendi em Medeia:

Acerbar: v.t.d. Fazer ficar acerbo; tornar mais forte ou agressivo; exacerbar. Figurado. Provocar angústia; afligir ou amargurar: a injustiça acerba-o diariamente.
Acerar: v.t. Converter ferro em aço, dar a têmpera do aço: o carbono acera o ferro. Fig. Acirrar, exacerbar: as injúrias aceram o ódio.
Alvedrio: s.m. Arbítrio.
Atiladamente: adv. De modo atilado ou de maneira discreta: comportou-se atiladamente.
Assisado: adj. Que tem siso; ajuizado, ponderado. 
Himeneu: s.m. União matrimonial; casamento ou matrimónio. A festa em que se celebra essa união; P.ext. Entre os gregos, a canção que é executada durante o casamento.
Mofinamente: adv. Desgraçadamente. Com mesquinhez.

Palavras que estão presentes em Medeia e que gosto de ver em livros: 

Peçonha: s.f. Secreção ou substância venenosa encontrada em alguns animais: a peçonha está presente em muitas cobras. Figurado. Tendência natural para a maldade.
Tálamo: s.m. Leito conjugal. Botânica. Receptáculo das plantas. Anatomia: Parte do encéfalo situada na base do cérebro. (É centro de transmissão; intervém na sensibilidade superficial e profunda.)

Expressões que abichanam um leitor em Medeia

"AIA - Terríveis são as paixões dos reis; obedecendo pouco, mandando sempre, é-lhes difícil temperar as suas cóleras." p. 18

Medeia agora a sério

Muito se fala da loucura de Medeia para justificar os seus actos, como se tratasse de um julgamento à posteriori em que o advogado de defesa apela à insanidade temporária.
Porque precisamos do argumento da loucura para julgar Medeia?
A razão diz-nos que não há justificação possível para que uma mãe assassine os seus filhos. Porém, não conseguimos deixar de simpatizar com Medeia e isto necessita de explicação. Quando a empatia nos tolda a razão, oferecemos lógica à primeira e, se mesmo assim não a encontrarmos, temos sempre a loucura; nem que seja a do leitor.
Parece-me até que a absolvição de Medeia resulta de uma harmonia de loucuras - a nossa e a dela. Ou melhor, creio que não existe absolvição, até porque Medeia não comete nenhum crime: sabemos que é executado um crime, mas também sabemos quem fornece os ingredientes para a sua consecução (Jasão). Quando o assassinato é efectivado já Medeia não é Medeia - é coisa.
A peça mostra-nos isso mesmo: a transformação de Medeia em coisa; de esposa fiel, desenraizada, confinada a um bibelô démodé que Jasão descarta, por falta de utilidade. É precisamente neste papel objectificado que vai actuar.
Devemos, deste modo, julgar objectos? Conseguimos condenar um almofariz que viu serem esmagadas cabeças de alho?
Só se estivermos loucos.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Medeia contada noutra história

 

MÃE CONFESSA CRIME

 Melinda Dulcineia confessa a autoria do assassinato dos seus dois filhos

 

Confirmou-se a pior e mais surpreendente das hipóteses: as duas crianças encontradas numa casa de banho pública de Valongo foram degoladas pela mãe. Ao fim de duas semanas de investigação intensa por parte da Polícia Judiciária (PJ), chega ao fim este caso único em Portugal.
A investigação parecia ter entrado num impasse nos últimos três dias, devido à falta de pistas e provas concretas. Na madrugada passada, Melinda Dulcineia (MEDEIA), mãe das vítimas, entregou-se no comando distrital da PJ, onde confessou a autoria dos crimes.
Trata-se de uma hipótese que o comandante regional da PJ, José Sófocles, havia afastado há cerca de uma semana, em comunicado, onde dizia que "neste momento, todas as pistas nos afastam da hipótese de se tratar de um crime familiar, estando os investigadores concentrados na hipótese de se poder tratar de assassinatos ligados ao tráfego internacional de pedaços de crianças". Visto ter-se verificado o oposto, o comandante nacional da PJ, Túlio Homero, já falou aos órgãos de comunicação social, em conferência de imprensa, dizendo que se iria apurar responsabilidades internas do porquê de se ter afastado um suspeito, quase de imediato, que se veio a relevar ser o perpetrador dos crimes. 
Se a questão da PJ vai ter, seguramente, novos episódios, já o thriller de Valongo chega ao fim. O Farol de Lubumbashi (FdL) ainda não conseguiu apurar o teor da confissão de MEDEIA, mas conseguiu uma entrevista com o pai das vítimas, Jasão, que passamos a transcrever de seguida:

FdL: Como era a vossa relação?
Jasão: Há muito tempo que não era. Separámo-nos três semanas antes do [pausa para soluços], antes do [mais uma pausa para soluços, esta com cerca de seis segundos a mais do que a anterior], antes do... do que aconteceu.
FdL: E como é que Melinda Dulcineia aceitou a vossa separação?
Jasão: Nada bem! Nada bem, mesmo!
FdL: Tinham muitas desavenças, enquanto casal?
Jasão: Muito pelo contrário. Dávamo-nos muito bem.
FdL: O que aconteceu? O que mudou?
Jasão: Mudei-me eu. Conheci outra gaja, que era mais rica do que a Medy, e fui viver com ela.
FdL: E como é que lhe disse isso?
Jasão: Disse-lhe uma semana antes do [pausa para soluços, mais ou menos entre os três e os quatro segundos e meio], do...
FdL: Mas não me disse que estavam separados há três semanas antes dos terríveis acontecimentos?
Jasão: Disse-lhe a si! À Medy só disse quando já estava a viver com a outra. Aliás, se calhar, nem fui eu que lhe disse. Acho que foi o nosso vizinho, que vi uma vez no mercado...
FdL: ...e não lhe parece normal que ela tivesse ficado perturbada? Afinal, segundo apurámos, ela veio de longe só para viver consigo!
Jasão: É verdade! Tudo isso é verdade! Agora, acho que a reacção é intempestiva. Matou-me o puto!
FdL: Os...! Foram os dois!
Jasão: Tecnicamente, foram dois, tem razão. Agora, eu só gostava de um. Ela podia ter mandado a garota para o galheiro e estava tudo bem. Quites! Agora, o meu puto...!  

Medeia a nu


Antígona vai bem com

Sopa
Creme de legumes

Prato principal
Souflé de brócolos

Sobremesa
Baba de camelo com chantilly, fio de ovos, recheio de trufas de chocolate e duas bolas de gelado.

Bebida
Absinto

Música de acompanhamento


Palavras em Antígona

Palavras que aprendi com a Antígona:

Báquica: adj. Relativo a Baco; Festa báquica, festa dissoluta, orgia. Canção báquica, canção para animar a beber. Cena báquica, diz-se dos quadros que representam cenas de bebedores. Poesia báquica, versos em louvor do vinho.
Blandícias: s.f. Carícia, afago, meiguice.
Enristando: Pôr (a lança) em riste. Investir.
Hiantes: adj. Que mostra uma grande abertura; fendido. Poética: Que tem a boca aberta; que está cheio de apetite.

Pélago: s.m. Mar profundo, longe das costas. Abismo. Fig. Imensidade; profundidade.
Tálamo: s.m. Leito conjugal.
Tripudiar: Dançar, batendo com os pés; sapatear. Fig. Exultar após uma vitória, desdenhando o derrotado: os campeões tripudiaram sobre os perdedores.
Votivas: adj. Que de pode referir ao voto. Que se oferece em cumprimento de voto.

Palavras que estão presentes na Antígona e que gosto de ver em livros: 

Fauces: s.f. Botânica. A extremidade do tubo ou espaço imediato aos lábios da corola, que às vezes se distingue bem pouco do tubo. Zoologia. A abertura da concha univalve, e a superfície superior dela. A goela de um animal.
Ululante: adj. Que ulula, que uiva. Lamentoso.
Vileza: s.f. Particularidade da pessoa ou daquilo que é vil; que tende a ser vilão; vilanagem ou vilania. Modo de agir ou ação vil; que é degradante; indigno.

Expressões que abichanam um leitor na Antígona

O guarda para Creonte:
"Porque eu venho agarrado a esta esperança, de que nada mais sofrerei senão o que estiver destinado."
vv. 235-236

"Creonte: Não sabes como ainda agora as tuas palavras me incomodam?
»Guarda: São os teus ouvidos ou a tua alma que elas afetam?
»Creonte: Para que queres definir bem donde vem o meu aborrecimento?
»Guarda: O feito aflige-te o espírito, os ouvidos sou eu que os perturbo."
vv. 316-319

Hémon para Creonte:
"Porque quem julga que é o único que pensa bem, ou que tem uma língua ou um espírito como mais ninguém, esse, quando posto nu, vê-se que é oco."
vv. 706-708

"Creonte: É portanto a outro, e não a mim, que compete governar este país?
»Hémon: Não há Estado algum que seja pertença de um só homem.
»Creonte: Acaso não se deve entender que o Estado é de quem manda?
»Hémon: Mandarias muito bem sozinho numa terra que fosse deserta."
vv. 736-739

Tirésias para Creonte:
"Errar é comum a todos os homens. Mas quando errou, não é imprudente nem desgraçado aquele que, depois de ter caído no mal, lhe dá remédio e não permance obstinado. A teimosia merece o nome de estupidez."
vv. 1024-1028

Antígona agora a sério


Antígona relata a história de um conjnto de cegueiras.
Para o leitor, o inverso: nas trevas das personagens vislumbramos as suas luzes.
Antígona não vê as leis dos homens. Pelo menos, não as vê acima dos sentimentos familiares e, sobretudo, acima das leis dos deuses.
Isménia, sua irmã, não vê em si as consequências dos actos de Antígona. Esconde-se sob o manto da sobrevivência e da ordem.
Creonte, rei de Tebas, vê no seu poder a fonte de toda a luz. Não vê, porém, que ela incide sobre os seus olhos.
Hémon, filho de Creonte, não vê justiça nos actos do seu pai.
Eurídice, mulher de Creonte, não quer ver o que já sabe, e escolhe a escuridão.
Tirésias não vê o presente mas coloca o olhar no futuro.
Esta tragédia sobre a cegueira é um manual de luz sobre os laços familiares, a política, o poder e a justiça.

Antígona contada noutra história

A acção passa-se ao redor de uma mesa, à hora da refeição. Os protagonistas são três: Jorge Rafael (JR), o petiz que tem a mania que é rei; Emídio Joel (EJ), o pai desgraçado; um prato de sopa (PdS).

EJ: Anda, Joquinha! Come tudo para ficares grande e forte. 
JR: Pffff! Gosto de ser pequenino!
EJ: Vá lá! Olha que há pessoas a morrer à fome em África.
JR: Quero lá saber!
EJ: Fazemos assim: só mais três. Combinado?
JR: Não quero! Nem mais uma!
PdS (a pensar): Está a ficar frescote.
EJ: Se comeres a sopa, dou-te dois chocolates.
JR (a arregalar os olhos): Combinado! Dá cá a colher, que eu como sozinho.
EJ: Já não é preciso. Podes sair da mesa.
JR (confuso): Como assim? E a sopa?
EJ: Nem sopa, nem chocolates. Entretanto, morreram meninos da tua idade em África. E, sim, foi por tua culpa.

Antígona a nu



segunda-feira, 28 de julho de 2014

Job vai bem com

Sopa
Não preciso

Prato principal
Caldo de arroz com frango

Sobremesa
Não preciso

Bebida
Água do rio

Músicas de acompanhamento




Palavras de Job

Palavras que aprendi em Job:

Espeque: s.m. Grossa peça de madeira vertical ou levemente inclinada, para sustenta
                provisoriamente um muro, um pavimento ou terras que ameaçam desabar.
                Escora, estaca.
Enxúndia: s.f. Gordura.
                A banha das aves e do porco.
Fátuo: adj. Que possui uma opinião positiva muito elevada de si mesmo; que se julga melhor que os
                demais; presunçoso.
                Que apresenta insensatez; insensato.
                Que não dura muito; que não permanece; transitório.
Insulsa: adj. Que não tem sal; insípido, insosso.
Ornejar: v.i. Zurrar.
Pimpolho: s.m. Botânica. O início do desenvolvimento de um ramo de videira; broto de videira.
                Figurado. Criança bem pequena.
                Figurado. Menino vigoroso e robusto.
Propínquo: adj. Próximo, vizinho.
Provecto: adj. Adiantado; que tem progredido.
                Avançado em anos./ Fig. Experimentado, muito sabedor.
Rogativo: Que roga. Que envolve rogo ou súplica.

Palavras que estão presentes em Job e que gosto de ver em livros: 

Assopro: s.m. Sopro.
                Pequena aragem.
                Fig. Favor, proteção.
                Estímulo, inspiração.
Estultícia: s.f. Qualidade, particularidade, característica daquilo que é estulto; que demonstra
                estupidez ou se comporta de maneira estúpida; tolice, parvoíce.
Fauces: s.f. Botânica. A extremidade do tubo ou espaço imediato aos lábios da corola, que às vezes
                se distingue bem pouco do tubo.
                Zoologia. A abertura da concha univalve, e a superfície superior dela.
                S.f.pl. A goela de um animal.
Fautores: adj. Que causa favorecimento; que é favorecedor; que é o motivo.
                Que providencia apoio; que é partidário.
                Que oferece proteção; defensor.
                s.m. Algo ou alguém que é o motivo, a causa ou a razão para algo.
Ilhargas: Ancas e quadris.
Leviatã: s.m. Denominação bíblica de vários monstros marinhos.
Pejo: s.m. Pudor; vergonha; acanhamento.
Sempiterno: adj. Característica do que persiste, do que se mantém ou se conserva, para sempre - que
                 é eterno: Deus é sempiterno.
                 Qualidade do que é excessivamente velho ou antigo.

Expressões que abichanam um leitor em Job

Job:
"Oxalá se pesassem numa balança os meus pecados, pelos quais mereci a ira e a calamidade que padeço" (6:2)

Sofar:
"O homem não eleva-se em soberba, e julga ter nascido livre, como a cria do asno montês." (11:12)

Job para os três amigos:
"E oxalá que vós vos calásseis! para puderdes passar por sábios." (13:5)

Fim:
"Depois disto, viveu Job cento e quarenta anos, e viu a seus filhos, e aos filhos dos seus filhos, até à quarta geração, e morreu velho e cheio de dias." (42:16)

Job agora a sério

Porquê ter uma porta quando não temos paredes?
Job vive na fronteira da crença: o livro, não a pessoa.
A pessoa Job vive no universo da fé, numa galáxia sem questões e cuja única resposta é Deus.
Aliás, Job não é uma pessoa: é a fé em si.
O livro Job é muito mais do que isso: é a fronteira representada numa porta, a qual não esconde o que se encontra no interior de casa.
O domicílio de Job é um edifício em mutação, em evolução descontínua, desde os cantos luminosos aos recantos obscuros. Diria mais, mostra-nos tudo o que estamos dispostos a ver. E no fim, verificamos que não saímos do local de onde partimos: da porta.
É também um livro sobre a elasticidade da fé: física e mental, mas não a de Job. As questões que se levantam à medida que assistimos à tangibilidade da fé nada tem a ver com ele, até porque em Job não existe elasticidade, nem tangibilidade, nem sacrifício: apenas certeza: apenas fé. As questões que se levantam são as que nós suscitamos, daí nos encontrarmos à porta.
Job predispõe-se a mostrar o interior, o dele e o nosso, com uma diferença: as paredes que aparenta não ter são apenas um reflexo das que nós não temos; são as que pensamos observar apesar de não tirarmos os olhos da entrada.
O que nos diz parece ser muito claro: Eis o interior! Continuas disposto a vivê-lo do exterior?
A formulação inicial poderá ser mais simples de equacionar e mais difícil de processar:
Consigo eu ser Job?
Ou melhor:
Seja qual for a minha crença ou objectivo, consigo manter-me Job ao longo de todo o percurso?
Porque Job é um texto para não crentes, crentes ocasionais e crentes de toda a vida.
Porque é uma prova de fé, se não da sua existência, pelo menos do peso dos seus limites.
Porque as questões que promove são presentes e não estão enterradas no tempo em que foram escritas, e devem continuar a ocupar espaço em cada um de nós, mesmo depois de Kant e Sartre.
Porque Job é símbolo de uma provação contínua, um texto sem fim e que se inicia depois de termos terminado a sua leitura, precisamente quando percebemos que estamos perante uma porta e que a fechadura está do nosso lado. 

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Job noutra história

Uma dramatização

Seis personagens fictícias:
Job
Elifaz
Bildad
Zofar
Eliu
Deus
Satã

No alto do céu, Satã visita Deus para o piquenique semanal.
Deus - Então Satã, como vai isso?
Satã - Vai mal, meu Deus... vai mal.
Deus - Quer dizer isso que vai bem?
Satã - Sempre nas interpretações, seu maroto! Até os pensamentos se movimentam por caminhos misteriosos.
Deus - Ah! Ah! Ah! Ice tea para acompanhar os jesuítas?
Satã - Pode ser. Estás de bom humor! Que se passa?
Deus - Estás a ver ali, junto ao riacho? Ali vive o meu maior fã.
Satã - Como assim?
Deus - Vive ali o mais recto dos homens. Tem uma família, propriedades e gado abundantes e adora a eu.
Satã - A mim?
Deus - Querias!
Satã - Não era isso que queria dizer mas... Deixa lá! E não achas que, correndo tudo de feição, ele tem alguma razão para não te adorar?
Deus - Como assim?
Satã - Se lhe tirássemos coisas, creio que a adoração não seria assim tanta.
Deus - Será que me está a cheirar a aposta?
Satã - Ó meu Deus, podemos apostar quando vamos jogar bowling, agora com pessoas, não!
Deus - Agora viraste mariquinhas?
Satã - Não digas isso!
Deus - Mariquinhas!
Satã - Retira o que disseste!
Deus - MA-RI-QUI-NHAS!
Satã - Ai é? Então vou tirar-lhe a mulher, os filhos e as propriedades. Se ele continuar a adorar-te, podes ir buscar quem quiseres ao Inferno. Se o sentimento dele decrescer, posso eu escolher alguém do Céu para levar lá para baixo.
Deus - Por mim, até podes chagar-lhe o corpo todo.
Satã - Mas, mas, mas... Ok, tu é que mandas.

Na Terra, Job levava uma vida abastada, num quotidiano bucólico, quando algo o fez ficar sem filhos, propriedades e o respeito da comunidade. Foi 'algo' porque foi inventado por Deus e o homem que está a escrever este texto ainda não teve o discernimento (quanto mais, a inteligência) para descortinar o divino acto.
Job - Ai, ai! Mas que é isto? Ainda agora estava a ordenhar uma vaca e ela evaporou-se! Fiquei com as mãos sem tetinhas, a fazer movimentos como se estivesse a conduzir um tractor. Obrigado, meu Deus, por me evaporares a vaca, que a mulher já andava a desconfiar.
Satã (a pensar) - Continua a adorar, mesmo tendo perdido as riquezas... Esquisito! Pronto, vou chagá-lo.
Job - Ai, ai! Que dores! Oh, que feridas são estas? Não te apoquentais, Job! Recebeste o bem do Senhor, também deverás tomar o seu mal. E assim experimentas sensações novas, de dor intensa. Obrigado, meu Deus!
Chegam três amigos mais um.
Elifaz - Olá Job, velho amigo. Então, és iníquo, heim?
Job - Estais equivocado. Sou todo bom. Deus ter-se-á equivocado nas pústulas. O Schlomo, aquele pastor que passa mais tempo com as ovelhas do que com a mulher, vive aqui na quinta ao lado. Isto devia ser para ele.
Bildad - Olha que não, velho amigo. Deus não se engana. Deves ser mesmo um grande ímpio.
Job - Nada disso. Sempre fui bom. Deveras.
Zofar - Não me parece, velho amigo. Cá para mim sempre foste um estulto.
Job - Como podes dizer isso? Mesmo com o corpo em decomposição, eu continuo a adorar a Deus. Não fosse ter-me caído um braço há cinco minutos e abraçar-te-ia, apesar dos insultos.
Eliu - Basta! Cambada de ignóbeis. Nem os três senhores com nome de detergente de roupa têm razão, nem tu, mártirzinho de pacotilha! Deus é que julga, Deus é que sabe. A interpretação dos seus actos não cabe aos homens, pois os homens não podem interpretar actos de alguém superior. Deus só responde a si mesmo.
Entra Deus (peço desculpa pelo pleonasmo, tendo em conta a omnipresença).
Deus - É isso!
Job - Isso o quê?
Deus - Estais a interrogar-me?
Job - Não é isso. Só não percebi...
Deus - E como poderias tu perceber?
Job - Adoro-te!
Deus - Eu sei.

Na semana seguinte, Satã volta a encontrar-se com Deus no céu.
Satã - Trouxe aqui uns miminhos conventuais.
Deus - Se não és tu a trazer, nunca como nada disso.
Deus - Mas não foi só isso que trouxeste, pois não?
Satã - Olha que nunca pensei que ganhasses esta aposta. O que aconteceu ao pobre diabo?
Deus - Pobre deusinho, se faz favor. Restituí-lhe tudo: gado, mulher, filhos, propriedades...
Satã - Como assim? Ainda te lembravas de tudo?
Deus -  Na verdade, não me lembrava muito bem da quantidade. Pelo sim, pelo não, mandei-lhe tudo à grande, incluindo uma mulher com um par de mamas divinais.
Satã - Uau! Isso é mesmo à minha medida: diabólico.
Deus - Agora mostra, mostra! Trouxeste-me o Homero?
Satã - Sim, está aqui. Mas não percebo para que precisas dele? Sabes que ele é um esquizofrénico religioso: acha que há vários deuses.
Deus - Eu sei. Mas estou mesmo a precisar de um grande escritor para contar a maior história de todos os tempos.

Job a nu

Odisseia vai bem com

Sopa
Sopa de nabiças

Prato principal
Feijões enlatados com salsichas

Sobremesa
Laranja (por causa do escorbuto)

Bebida
Água (sem sal) e Vinho tinto

Música de acompanhamento:


Filme de acompanhamento (baseado numa história fictícia):

Palavras da Odisseia

Palavras que aprendi com a Odisseia:

Ambrósia: Alimento dos deuses.
Arúspice: s.m. Sacerdote que, no sacrifício, predizia o futuro pelo exame das entranhas das vítimas.
Deslassar: Tornar(-se) lasso; afrouxar(-se), alargar(-se). Cf com deslaçar.
Égide: s.f. Mitologia Grega. O escudo que pertencia à deusa grega Palas Atena.
            Figurado. Aquilo que pode servir para amparar; defesa ou proteção.
Evolou: evaporou.
Piscoso: adj. Que possui uma grande quantidade de peixes: lago piscoso.

Palavra que estão presentes na Odisseia e que gosto de ver em livros:

Boieiro: Condutor ou pastor de bois.
Deletéria: adj. Venenoso; que ataca a saúde; nocivo. / Fig. Que corrompe.

Expressões que abichanam um leitor em Odisseia

"Esta é a única homenagem que aos pobres podemos prestar:
cortar o cabelo e deixar cair do rosto uma lágrima."
Canto IV, vv. 197-198

Zeus para Atena:
"Que palavra passou para além da barreira dos teus dentes?"
Canto V, v. 22

Ulisses na praia onde o mantinha cativo Calipso:
"E com os olhos cheios de lágrimas fitava o mar nunca vindimado."
Canto V, v. 84

Ulisses responde ao rei Alcínoo:
"Pois nós, as raças de homens na terra, somos rápidos na ira."
Canto VII, v. 307

Melhor comparação de sentimentos de sempre:
"E o coração aguentou, mantendo-se em obediência
completa. Ele é que dava voltas e voltas na cama.
Tal como o homem à frente de um grande fogo ardente
revolve um enchido recheado de sangue e gordura
sem parar, na sua ânsia de que se asse rapidamente -
assim Ulisses se revolvia na cama, pensando como
haveria de pôr as mãos nos desavergonhados pretendentes,
um homem contra muitos."
Canto XX, vv. 23-30 

Odisseia agora a sério

Há lugares-comuns que causam discórdia. Frases como "Quero ser feliz" são hasteadas como bandeiras pelas gatas borralheiras e desdenhadas pelos irónicos de profissão.
Se encararmos o "ser feliz" como um fim, como um objectivo, que gera dúvida, que suscita dissonância, podemos afirmar que, por outro lado, a viagem que fazemos e que pode aportar nesse (ou noutro) destino, mobiliza consonâncias.
Na verdade, a vida não se mede em segmentos de recta, entre os pontos A e B; a vida mede-se na linha, nunca recta, em desconhecimento constante de onde se encontra o princípio e o fim.
O que resta? A viagem. Esta sente-se: vive-se.
"Ser feliz" é um conceito que atribuímos a um futuro que não dominamos. Resta-nos apenas viver entre passadozinhos e futurinhos, com objectivos presentes, conscientes de que a linha recta não existe. A clarividência no presente permitir-nos-à dizer: "Sou feliz"; nunca: "Quero ser feliz".

O que nos faz amar a Odisseia quase três mil anos depois?
E porque razão três mil anos não têm qualquer peso, nem limitações de entendimento?
A resposta é muito simples: a viagem.
A viagem de Ulisses de regresso a casa.
A viagem de Penélope de regresso a Ulisses.
A viagem de Telémaco entre o pai imaginado e o pai real.
A viagem da soberba à legitimidade.
A viagem de Homero sem fim à vista.
A viagem: sinuosa, difícil, perseverante, derrotista, vencedora.

Odisseia contada noutra história

Entretanto, em Ítaca:

ULISSES: Querida, vou sair.
PENÉLOPE: Aonde vais?
ULISSES: Vou comprar cigarros.
PENÉLOPE: Estás doido? Olha que isso mata! Espera lá: mas tu não fumas!
ULISSES: Estava a brincar! Vou só ali participar numa guerra e já volto.
PENÉLOPE: Ah, estavas a assustar-me. Vai lá. Aproveita e traz pão, já que vais à rua.
ULISSES: Prometido.
PENÉLOPE (a pensar): Ainda bem que vai apanhar ar. Já estou farta do pó e serrim que vem da carpintaria, sempre a construir cavalinhos de pau. Um, ainda vá que não vá, para o Telémaco brincar. Agora, cinquenta? Ainda se fizesse um aparador para o hall de entrada...

Vinte anos depois

ULISSES: Querida, cheguei!
PENÉLOPE: Quem vem lá?
ULISSES: Sou eu, Ulisses, Odisseus para os amigos, rei de Ítaca e teu marido.
PENÉLOPE: Espero que estejas a brincar. O meu marido morreu.
ULISSES: Mas... Mas... Eu sou eu.
PENÉLOPE: Ai, sim? Prova-o!
ULISSES (começa a tirar as calças): Os teus desejos são ordens.
PENÉLOPE: Puxa as calças para cima! Não é nada disso!
ULISSES: Então?
PENÉLOPE: Onde está o pão?
ULISSES: Chiça! Esqueci-me! Vou buscar imediatamente.
PENÉLOPE: Nem penses! Vai à sala e limpa-a.
ULISSES: Está muito suja?
PENÉLOPE: Está cheia de pretendentes ao teu trono.
ULISSES: Ah, já entendi.
PENÉLOPE: Antes de ires, diz-me porque demoraste tanto.
ULISSES: Não vais acreditar: no final da guerra andei às voltas com o barco, até porque ainda não inventaram a bússola, depois fui sequestrado por uma deusa que me violou durante anos, depois fui parar a uma ilha cheia de ciclopes e espetei um tronco no olho de um deles, depois vieram as sereias...
PENÉLOPE: Basta! Chega de desculpas! E a guerra?
ULISSES: Espectacular! Construí um cavalo de madeira... Aonde vais? Ainda não acabei!
PENÉLOPE: Vai tratar dos pretendentes. Falamos depois.

Enquanto se afastava, Penélope não pôde deixar de sorrir. Não era importante a justificação da ausência; era importante a felicidade que sentia pela presença. Era o homem ideal, sempre pronto para a bravura e para a honra e, sobretudo, sempre disposto a ausentar-se. Ulisses nunca havia reparado que Penélope nada percebia acerca das tarefas domésticas e os pretendentes, que se haviam instalado no palácio na sua ausência, começavam a colocar em cheque os dotes de Penélope, ela que há dez anos tecia a mesma peça de roupa.

terça-feira, 25 de março de 2014

Odisseia a nu


Ilíada vai bem com

Sopa
Sopa de linhaça

Prato principal
Boi assado em fogueira de acampamento (sem acompanhamentos e sem pratos)

Bebida
Vinho tinto doce, ligeiramente aquecido

Música de acompanhamento

Palavras da Ilíada

Palavras que aprendi com a Ilíada:

Amavio: 1. Beberagem ou prática que se supuna despertar amor.
                2. Feitiço; encanto; sedução.

Amorável: Terno; carinhoso.
Boldrié: s.m. Correia usada por militares a tiracolo, para prender a arma; talabarte.
Canícula: s.f. No hemisfério Norte, a quadra mais quente do ano, correspondente ao começo do verão.
                 Período de grande calor.
Cnémides: Joelheiras de proteção.
Deletério: adj. Venenoso; que ataca a saúde; nocivo. / Fig. Que corrompe.
Diadema: s.m. Ornato circular, de ouro e pedras preciosas, com que os soberanos cingem a cabeça.
                 Ornato semelhante com que as mulheres cingem o penteado.
                 Coroa.
Fremebunda: Que vibra de comoção, de entusiasmo, de cólera.
Hiante: adj. Que mostra uma grande abertura; fendido.
              Poética Que tem a boca aberta; que está cheio de apetite.
Imbele: adj. Não belicoso, que não é capaz para a guerra.
              Fig. Fraco, débil, tímido, covarde.
Ingente: adj. Muito grande, desmedido, enorme.
               Muito forte, intenso.
Jacular: jacular(lat jaculari) vtd poét
               1. Arremessar, atirar, lançar arma de arremesso.
               2. Ferir com dardo ou qualquer outra arma de arremesso.
Prélio: s.m. Batalha, luta, peleja.
            Disputa desportiva.

1. Beberagem ou prática que se supunha despertar amor.

"amavios", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/amavios [consultado em 18-03-2014].1.

Palavras que estão presentes na Ilíada e que gosto de ver em livros:


Aguilhoar: 1. Picar com aguilhão.
                    2. [Figurado] Estimular.
                    3. Magoar. Ferir.
 Borrasca: s.f. Temporal com ventania violenta e de pouca duração.
                   Fig. Ocorrência súbita de contrariedades e desgostos.
                   Acesso de mau humor e cólera violenta mas passageira.
Bruxuleante: v.i. Brilhar tremulamente (luz de lamparina, vela etc.); tremeluzir. / Brilhar fracamente; estar prestes a extinguir-se (a luz).
Hecatombe: s.f. Massacre de muitas pessoas; chacina ou matança.
                     Desastre ou catástrofe em proporções gigantescas; calamidade.
                     Antigo. Assassinato de cem bois (na Antiguidade).
                     (Etm. do latim: hecatombe/ do grego: hekatómbe)
Obnubilar: v.t. Obscurecer, toldar, turvar (como se fosse visto através de uma nuvem).
                    P. ext. Enfraquecer a inteligência.
                    Obsedar, causar obsessão.
                    V.pr. Obscurecer-se, pôr-se em trevas.
Refrega: s.f. Luta entre forças inimigas.
                Briga, peleja.
                Trabalho, lida.
Tergiversar: v.i. Girar de costas; virar ao contrário; hesitar: recebeu todas as ofensas sem tergiversar.
                      Utilizar vários pretextos, subterfúgios, desculpas; fazer rodeios; evitar afirmações claras: vive a tergiversar, já que nunca diz nada claramente. ´
                      (Etm. do latim: tergiversare)
1. em que há amavios
2. amável, delicado, mavioso

amavioso In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-03-18].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa-aao/amavioso>.
1. Picar com aguilhão.

2. [Figurado]  Estimular.

3. Magoar, ferir.

"aguilhoado", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/aguilhoado [consultado em 18-03-2014].
1. Picar com aguilhão.

2. [Figurado]  Estimular.

3. Magoar, ferir.

"aguilhoado", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/aguilhoado [consultado em 18-03-2014].

Expressões que abichanam um leitor na Ilíada

Acerca do braço decepado de Hipsenor pela espada de Eurípilo:

"O braço caiu ensanguentado por terra; e sobre os seus olhos
caíram a morte purpúrea e o destino ingente."
Canto V, vv. 82-83

"Depois deitaram-se para descansar e acolheram o dom do sono."
Canto VII, v. 482

"Por toda a terra espalhava a Aurora o seu manto de açafrão"
Canto VIII, v. 1

Expressão recorrente de quem vai falar importantes palavras:

"Assim disse; e sorriu o pai dos homens e dos deuses
e respondendo-lhe proferiu palavras apetrechadas de asas:"
Canto XV, vv. 47-48

Morte de Sarpédon:

"Enquanto falava, o termo da morte veio cobrir-lhe os olhos
e as narinas. E Pátroclo pôs-lhe o calcanhar no peito
e do corpo arrancou a lança; os pulmões vieram atrás."
Canto XVI, vv. 502-504

Ilíada agora a sério

Ilíada é um livro esquizofrénico,
joguete de interpretações e elucubrações.
Homero é o seu autor esquizofrénico:
um, vários, nenhum, cego, copista da oralidade, cantor do mito.
Ilíada é Ílion, mas também é Tróia.
O tema é a guerra: de Tróia.
Nela participam os gregos que aqui não são gregos:
ou são Argivos, ou são Dânaos, ou são Aqueus.
Nela morrem homens que não são uma entidade colectiva:
têm nomes, uma família e uma herança.
Combatem para recuperar uma mulher para o seu marido.
Ela foi raptada e foi de livre vontade.
Ele quer recuperá-la e tem vergonha dela.
O tema é a guerra: de Aquiles.
O protagonista que é o mais forte dentre os homens
conhece dois sentimentos: ira e amuo.
Homero torna Aquiles como figura central da epopeia
e que nela não aparece em cerca de quatro quintos
da prosa: que também é poesia.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ilíada contada noutra história

(Para ser lido com voz grave de trailer de filme de acção)

Ele era um homem zangado.
Combatia uma guerra que não era a sua.
Numa terra que não era a sua.
Ao lado de líderes que não eram os seus.
Um destes líderes comete o erro ao retirar-lhe a amante:

- Briseidaaaaaaaaaa! Nããããããããããããoooooo!

Ele já não era um homem zangado.
Era agora um homem amuado.
Um sentimento que dura quatro quintos do livro:

- Olha lá, podes dar uma mãozinha na guerra?
- Não vou!
- Oh, vá lá!
- Não vou!

Até que um evento o faz mudar de ideia:

- Pátroclooooooooo! Nãããããããããããooooooo!

A morte do melhor amigo retira-o do estado de amuo.
Agora era a sua guerra.
Agora queria vingança.
Agora voltava a ficar zangado, mas em mais.

- Heitoooooooooooor!
- Nããããããããooooooooooo!

Ele é:

AQUILES

Em:

ILÍADA

Um livro de:

HOMERO

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Gilgamesh vai bem com

Apesar de ser uma história de 'reis', o livro tem um tom bastante rural e selvagem, daí a minha proposta:

Sopa
Come-a tu, seu maricas!

Prato principal
Favas com enchidos vários
Pernil de javali assado com alecrim

Bebida
Cerveja artesanal em copo de barro

Música de acompanhamento
 

Palavras em Gilgamesh

Palavras que aprendi com Gilgamesh:

Jactância: s.f. Comportamento de quem age com arrogância.
                 Ação ou hábito de se gabar: falar com jactância.
                 Aspiração de valentia, coragem, conduta de quem vive a contar fanfarrices.
Aguilhão: s.m. Ponta de ferro, fixada na extremidade de um bastão, para picar os bois.
                 Zoologia. Designação comum de ferrão.
                 Figurado. Tudo aquilo que incita a agir; estímulo: a glória é um poderoso aguilhão.
                 Figurado. Sofrimento pungente.

Palavra que está presente em Gilgamesh e que gosto de ver em livros:

Libação: s.f. Ação ou efeito de libar (beber).
               Que se baseia na ação de aspergir ou de oferecer um líquido a uma divindade.
               Ação de ingerir bebidas alcoólicas, geralmente para brindar, por deleite e/ou por prazer.
               Essa bebida e/ou esse líquido.

Gilgamesh agora a sério

Bem sei que foi há muito tempo, mas vamos lá tirar o mamute do meio da sala.
Gilgamesh é um plágio.
É um pré-plágio.
É um pós-plágio.
Gilgamesh, duas partes deus, uma parte homem, vivia no mundo como se mais ninguém existisse. Ao seu aborrecimento, os deuses responderam-lhe com a criação de um parceiro. Enkidu, feito à sua medida e semelhança.
Os deuses comandam o destino. Para eles: a vida; para os homens: a morte. Comunicam os seus desígnios aos mortais através de signos, os quais são transportados pelos sonhos.
Aos dois companheiros urge a aventura. Gilgamesh e Enkidu buscam a glória eterna.Querem que a história, mais eterna que a vida, prolongue os seus feitos. Apenas um retornará.
Esta mania que os deuses têm de controlar da vida e da morte, Gilgamesh sabe-o bem. Ainda se lembra que já haviam estado desavindos com os humanos. E o que é fizeram? Lançaram um dilúvio sobre a Terra e a vida sobre ela desapareceu.
Mesmo assim, Gilgamesh procura a eternidade: já não a da glória, mas a da carne. E encontra-a sob a forma de uma flor, que ele tenta transportar para o seu reino. Gilgamesh sucumbe aos apetites de um banho e a flor é-lhe sonegada por uma serpente. A sua eternidade por um banho.
Onde é que eu já ouvi isto depois?
Ou foi antes?
A epopeia de Gilgamesh é um texto sul-babilónico. Porém, existe um anterior, com o mesmo título, do período sumério. Não é exactamente igual. Pelo menos, penso que não, que o meu sumério está tão enferrujado como o meu islandês. Mas há quem diga que não e, como não encontrei ninguém que dissesse que sim, eu também acho que não. O babilónico aproveita os temas sumérios, acrescenta uns, retira outros e, sobretudo, torna-o uniforme.
Ademais, se os babilónios o quitaram aos sumérios, por mim tudo bem e poderá dever-se a dois pontos:
  • O texto foi escrito em tabuinhas de argila. Logo, não deveriam existir muitos exemplares, se é que existiam em plural. O gatuno poderá ter sonegado o exemplar, ter feito uma cópia, dar a sua autoria e ter convertido o original em potes.
  • O séc. XVIII a.C. não é muito conhecido (se é que o é por alguma coisa) pelo cuidado na legislação em relação aos direitos de autor. Tanto não o é, que o texto que chegou até nós entra na categoria de autor 'anónimo'. Na verdade, mais vale. Estamos numa época em que ainda não haviam sido inventados os pseudónimos e, segundo reza a lenda, o Gilgamesh terá tido várias versões: a primeira com traços orais e as seguintes atribuídas a tipos com estes nomes: Sinliqiunnini e Nabuzuqupkena. Resultado: mais vale a pena ser anónimo. Quem é que consegue dizer Sinliqiunnini? Ora digam lá cinquenta vezes seguidas. E Nabuzuqupkena? Ah, pois é! Eu também considero que o texto é anónimo. 
O pré e o pós fazem parte de Gilgamesh. Gilgamesh, na verdade, não é em si pré e pós: contém em si o pré e o pós. Gilgamesh este entre estes dois pontos; no início, no meio e no fim; no centro daquilo a que podemos chamar o início da literatura mundial.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Resumo de Gilgamesh contado noutra história

Em Gilgamesh, estamos na infância da literatura mundial.


Há muito, muito, mesmo muito... há bué, vá!, de tempo, no reino antigo de Uruk que, quem vai daqui, só tem que ir a direito pela Nacional 1 e sair na terceira saída da 1034ª rotunda, vivia o rei Gil, a quem todos temiam.
Na verdade, ele não era verdadeiramente rei, mas era assim que exigia ser tratado. Exigia, porque podia.
Gil era um magano que dominava o recreio da sua escola. Um domínio que era exercido pelo terror e possibilitado pelo seu tamanho e força: inigualáveis.
Nesta altura, ainda não existia futebol e o desporto que Gil praticava era a violação de meninas; por aborrecimento, nunca por deleite.
Ora, vá-se lá saber porquê, as outras crianças do recreio, bufas, decidiram fazer queixa dele à administração escolar. Diga-se que os membros da direcção da escola, por medo de Gil, comportavam-se como uma espécie de deuses: longe da vista.
Perante tantas queixas, a direcção toma uma decisão salomónica: dividir o terror. Em vez de um protagonista a espalhar medo, devia haver dois protagonistas que o fizessem. Melhor: o segundo protagonista devia ser um equivalente de Gil, igual em força.
É assim que surge Kid, que tinha, para espanto de todos, não só uma força equiparável à de Gil mas, também, a mesma fisionomia.
Constava-se que Kid havia sido abandonado em criança e, qual Tarzan, criado por criaturas selvagens. Foi resgatado da selva pelos membros da direcção da escola, que o aliciaram com favores sexuais. Consta-se também que o seu corpo era coberto por uma camada espessa de pêlo, a qual caiu aquando da execução dos ditos favores. Não se preocupem que, mal acabe de contar esta história, eu próprio aviso o protagonista Kid para consultar um especialista.
Gil e Kid avistaram-se pela primeira vez no recreio. Antes que pudessem sequer vislumbrar que eram em tudo semelhantes, decidiram conhecer-se através do toque secreto dos rufias: à pancada.
Como se dirime uma luta entre dois protagonistas iguais?
Iguais na fisionomia, na força, na vontade e na estupidez.
Não se pode.
Pois o empate a que se assiste, provoca neles um novo sentimento: o de invencibilidade conjunta.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Gilgamesh a nu

Como é que isto vai decorrer?

Após a leitura de cada livro, também conhecido por clássico, mas isso é só para amigos, vai divulgar-se o seguinte:

  • Uma foto erótica do livro
  • Resumo da história contado noutra história
  • Não, agora a sério!
  • Palavras que aprendi com o livro ou palavras que gosto de ler em livros
  • Expressões que abichanam um leitor
  • Este livro vai bem com...

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Lista de 'Clássicos'

1. Anónimo, Gilgamesh, Sécs. XVIII-XVII a.C.

2. Homero, Ilíada, Séc. VIII a.C.

3. Homero, OdisseiaSéc. VII a.C.  

4. Anónimo, Job, Sécs. VI-IV a.C.

5. Ésquilo, Prometeu Acorrentado, c. 475 a.C.

6. Ésquilo, Persas, 472 a.C.
 
7. Ésquilo, Os Sete Contra Tebas, 467 a.C. 

8. Ésquilo, Oresteia, 458 a.C.
 
9. Sófocles, Antígona, 432 a.C.

10. Eurípides, Medeia, 431 a.C.

11. Sófocles, Rei Édipo, 430 a.C.

12. Eurípides, Andrómaca, c. 425 a.C.

13. Aristófanes, As vespas, 422 a.C.

14. Eurípides, As Troianas, 415 a.C.

15. Eurípides, As Bacantes, 405 a.C.
 
16. Vatsyayana, Kama Sutra, Séc. III a.C.

17. Vergílio, Eneida, 29-19 a.C.

18. Ovídio, Arte de amar, 2

19. Dante Alighieri, A Divina Comédia, 1308-1321

20. Geoffrey Chaucer, Contos de Cantuária, Séc. XIV

21. Richard de Bury, Philobiblon, c. 1345

22. Giovanni Boccaccio, Decameron, 1349-1353

23. François Rabelais, Gargântua e Pantagruel, 1532-1534

24. Michel de Montaigne, Ensaios, 1595

25. William Shakespeare, Hamlet, 1603

26. Miguel de Cervantes, Dom Quixote, 1605 (parte 1), 1615 (parte 2)

27. Daniel Defoe, Robinson Crusoé, 1719

28. Joanathan Swift, As viagens de Gulliver, 1726

29. Laurence Sterne, A vida e opiniões de Tristam Shandy, 1760

30. Denis Diderot, Jacques, o fatalista, 1796

31. Edgar Allen Poe, Contos, Séc. XIX

32. Jane Austen, Orgulho e Preconceito, 1813

33. Stendhal, O vermelho e o negro, 1830

34. Johann Wolfgang von Goethe, Fausto, 1832

35. Honoré de Balzac, O tio Goriot, 1835

36. Grimm, Contos, Séc. XIX

37. Charles Dickens, Os cadernos de Pickwick, 1837

38. Nathaniel Hawthorne, A letra encarnada, 1850

39. Herman Melville, Moby Dick, 1851

40. Henry David Thoreau, Walden ou a vida nos bosques, 1854

41. Walt Whitman, Folhas de erva, 1855

42. Gustave Flaubert, A educação sentimental, 1869

43. Fiódor Dostoiévski, Demónios, 1872

44. Lev Tolstói, Anna Karénina, 1877

45. Mark Twain, As aventuras de Huckleberry Finn, 1884

46. Robert Louis Stevenson, O estranho caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde, 1886

47. Anton Tchékhov, Contos, 1886

48. Joseph Conrad, O coração das trevas, 1899

49. Thomas Mann, Os Buddenbrooks, 1901

50. D. H. Lawrence, Filhos e amantes, 1913

51. Marcel Proust, Em busca do tempo perdido, 1913-1927

52. James Joyce, Ulisses, 1922

53. Italo Svevo, As confissões de Zeno, 1923

54. Franz Kafka, O processo, 1925

55. Virginia Woolf, Mrs. Dalloway, 1925

56. Fernando Pessoa, O livro do desassossego, 1928

57. Robert Musil, O homem sem qualidades, 1930-1932

58. Louis-Ferdinand Céline, Viagem ao fim da noite, 1932

59. Halldór Laxness, Gente independente, 1934-1935

60. William Faulkner, Absalão, Absalão, 1936

61. Jorge Luis Borges, Ficções, 1944-1986

62. Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano, 1951

63. Samuel Beckett, Malone está a morrer, 1951

64. Ernest Hemingway, O velho e o mar, 1952

65. Vladimir Nabokov, Lolita, 1955

66. Juan Rulfo, Pedro Páramo, 1955

67. Günther Grass, O tambor de lata, 1959

68. Al-Tayyeb Salih, Época de migração para norte, 1966

69. Salman Rushdie, Os filhos da meia-noite, 1981